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Canto dos Sentidos (vídeo)

Foto do escritor: irenegeneccoirenegenecco

Atualizado: 30 de dez. de 2023


Posso ver dentro de uma bolha

e até flutuar sobre esta realidade,

quase tocá-la, me embeber de atmosfera

e nascer de repente alguém...

- Vejam! Nasceu esta mulher agora!

Agora!! – diriam estupefatos transeuntes.

Vem, vamos colher o mundo

libertar os condenados

achar os perdidos

consolar os aflitos

acolher os desterrados

alimentar os famintos

despojar os instintos de seu poder animal.

Vem - diriam, tomando minha mão.

E eu iria, e seria alguém.

Mas, como um balão que escapa

da mão do menino,

digo não,

flutuo para o alto céu dos pensamentos.

Vivo de razões, brigo por razões

luto e morro por razões,

e todos se afastam uns dos outros

por razões!

Sobe da terra uma neblina de arrazoados

zoados pelo ímpeto de medos límbicos

de tombar na solidão.

A razão me encobre, e cobre a todos

como uma mortalha.

Mas os corpos, ainda que tortos e desfigurados,

suplicam gestos de busca uns nos outros.

Braços que se estendam

mãos que segurem e afaguem,

olhos que brilhem, bocas que falem de paz

amor, perdão, línguas que não condenem,

palavras que não exijam nem apunhalem,

desejos que não aprisionem.

Ah!

Corpos com seu calor, ardor e sabores de sua tez...

Quisera sua nudez translúcida, nus de corpo,

que iluminado ilumina, unificado unifica

Transcendido, transcende, em lava ardente de amor.

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