Eu X eu
- irenegenecco
- 25 de mai.
- 4 min de leitura
VI - FIM - Meus Antepassados - Ver o início em parte I, e sequências parte II, III, IV e V
No meu processo de adoção, porém – legalizado somente próximo aos 18 anos - houve uma alteração, por erro do cartório, para “Genecco”. Isto incrivelmente também aconteceu com meus irmãos Irineu e Iracema. Foi também neste processo tirado fora o Pamplona, por minha decisão própria, dado à extensão excessiva que resultaria o nome na íntegra. Este foi um direito meu de escolha, devido minha idade já permitir escolhas.
Recebi da família adotiva muito de minha formação, pessoal e profissional. Dentro desta guarda estudei até o nível médio, recebi formação e educação musical, e uma sólida educação moral e ética. Isto de nada valia para mim, na época. Eu me sentia fora, como uma estranha no ninho. Isto me custava xingamentos tipo “desamorosa” ou mal agradecida, Eu era dominada por uma espécie de hipnotismo voltado a uma trágica condição de desamada, sem valor e esquecida da sorte. Órfã eterna, não só biológica, mas emocionalmente. Uma revolta indizível, diante de uma orfandade que ia muito além da ausência física dos pais biológicos, fermentava no meu coração. Aparentemente, entretanto, era mansa e calada. Para onde você desejaria ir, se sabia não ter para onde ir? Já desta época, o escape da escrita se fundiu ao meu oxigênio.
Minha madrasta (apesar dos infindáveis e dolorosos perrengues) me estimulou grandemente à leitura, pois ela tinha o hábito de ler. Esteve bem presente quanto ao cumprimento dos meus deveres escolares diários. Formaram-se aí, talvez, somado a um possível dom, as raízes de minha paixão pela leitura, e minha facilidade de me expressar na escrita. Desde o Ginásio – Escola Estadual Pio XII - escrevia alguns poemas, contos e pequenos ensaios de teatro, nas datas comemorativas, na escola.
Já casada, com 26 anos e com três filhos, fiz meu primeiro vestibular na UFRGS, para Biologia, e cursei dois semestres. Tentei troca de cursos para Tradutor e Intérprete, depois Letras, cursando 1 semestre ou 2 de cada. Amei Biologia, mas a considerava tão complexa e exigente de disciplina quanto Medicina, e minha condição de dona de casa e mãe me pedia algo mais simples de cumprir. Mesmo buscando outra formação considerada mais leve, precisei trancar a matrícula, e me afastar da vida acadêmica.
Concursada, já com mais uma filha, fui chamada e comecei a trabalhar aos trinta e um anos de idade. Durante os anos de atividade essencialmente burocrática, fruto de um disputado concurso público, sentia-me em dissonância com minha alma de escritora e poeta. Entretanto, mantinha vivo nas veias o gosto por escrever, acirrado no meu breve tempo de imersão acadêmica, notadamente em Literatura, na faculdade de Letras. Ainda que não finalizadas todas, esta visão acadêmica variada me despertou e fortaleceu meu espírito no gosto pelas disciplinas humanas - Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Educação e Letras.
Tais áreas foram alicerces do meu pensamento, e foram se solidificando na predominância em meu escrever. O transcendental e o metafísico, porém, me atraíram, tornando-se alvo de minha expressão literária. Participei de alguns concursos e coletâneas, neste ínterim, nunca estrangulando de vez minha alma de escritora. Em 1985 fui selecionada para publicar alguns poemas, na antologia “Quando as Folhas Caem”. Foi meu primeiro livro publicado, em coletânea.
Quando fui morar em Florianópolis, transferida de meu trabalho, reiniciei a faculdade na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Faculdade de Pedagogia – FAED, onde o sonhado diploma superior me veio depois dos 50 anos. Após me formar, reingressei de imediato na Univali, em Psicologia, onde cursei alguns semestres, e precisei interromper meus estudos. Voltei aos pagos (Porto Alegre) e retomei Psicologia na Uniritter, mas faltando 2 semestres para me formar desisti, pois na época já não via sentido em finalizar, apenas para colecionar diplomas.
Porém nunca parei de estudar. Um dia, numa sessão de psicoterapia, me foi feita a pergunta: “se te perguntassem de que você nunca abriria mão, nem ameaçada de morte, de que você nunca desistiria?” Eu respondi que nunca desistiria de querer aprender. Preferiria morrer a ser privada de aprender. Seja em conhecimentos acadêmicos, seja no autodidatismo. Transitei, no período de quase 10 anos, no campo das energias e metafísica, nas chamadas terapias alternativas. Tive como base inicial de religiosidade certa frequência à igreja católica, pelo lado de minha madrasta, e por batismo oficial. Porém também fui levada ao espiritismo, religião de meu pai adotivo. Alguns dos meus experimentos e estudos se encontram relatados no meu livro editado em janeiro de 2022, na Agbook – No mundo da ficção, só que não, como autor independente.
Viajei por um tempo a passeio e a estudos, depois de aposentar-me. Visitei alguns países na Europa. Morei com um namorado americano por um tempo próximo a 1 ano, nos Estados Unidos, cidade de York, no Maine. Neste ínterim, fui surpreendida pela pandemia, quando então fui a Portugal, onde ganhei uma bolsa de estudos, na Universidade para Mestrado em Educação e Formação. Obtive apenas pós-graduação, por impedimentos financeiros de lá completar mais um ano para receber diploma em Mestrado.
Embora não tenha exercido a profissão de professora, a educação se constitui na minha paixão de alma. Eis-me na atualidade em plena atividade literária, e aprendendo espiritualidade universalista, praticando meditações xamânicas, dialogando com mentores angelicais, todos arquétipos de uma ancestralidade da qual verdadeiramente me sinto herdeira, o que me resgata meu estado de finalmente me sentir inteira.
Comments