Dispensei Deus por alguns dias.
Nas múltiplas vias que encontrei
perdi-me sempre em laboriosas buscas.
- Espera, Deus, preciso achar meus tesouros,
não posso ir a ti assim tão pobre!
Perdi a fé, meu ouro maior,
e, o que é pior,
perdi-me nesta incerteza.
Aguarda, meu Deus, um pouco,
que este espírito louco
reencontre a lucidez.
Se nesta insensatez
eu me acabar,
não terei quem culpar,
quem chorar,
estarei só.
Deixa-me pensar por algum tempo
que posso viver sem crer
que não necessito ser eterna.
Deixa-me sorver o licor amargo
de minha verdadeira e única solidão.
Se embriagar-me até cair,
como será triste!
Não terei nem ao menos o direito de clamar:
- Deus, oh Deus,
por que me abandonaste?
observação - selecionado na lista de semifinalistas no concurso Internacional Pena de Ouro, da Casa Brasileira de Livros em 2022
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