Noite infante acolhe quente e embala silente
canção-abrigo-proteção pra sempre,
refúgio das agonias porvir, insuspeitado devir
Calçadas desgastadas pedra sabão
Chapéu de feltro cinza na mão – boa noite!
Casas lusas paredes pálidas portas janelas à beira,
bocais de louça quebra-luzes latão plissado
bocas da noite derramam sombras douradas
postes postados troncos eretos- cheiros-verdes
Eucalyptus de outrora. Outra hora.
Cães latem, grilos trincando noite-verão
embalam recém-nascidos, medos límbicos,
mães insones num berço empobrecido,
vilarejo subterrâneo onde floresce carvão
pulmão xisto betuminoso, vida do mineiro
chiste duma vida que sobre vive. Sub existe.
Vizinho de para- peito, leito e janelas mudas,
Surdas lembranças, esperanças idas,
casas à beira, sem jardins, ai de mim, tão pequena,
ai de ti, alma serena, cotovelos nas janelas
que sustentam pensamentos vagos
de um como já foi e como será...
- Boa noite!
E a menininha se aconchega e dorme
num colo que acolhe tudo e a tudo sossega... pai!
(Eu, aos 3 anos, no colo do meu pai - Minas do Butiá, 1953)
Comments