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Passeio noturno (ao colo)

Foto do escritor: irenegeneccoirenegenecco

Atualizado: 27 de out. de 2023


Foto de Bailey Burton na Unsplash

Noite infante acolhe quente e embala silente

canção-abrigo-proteção pra sempre,

refúgio das agonias porvir, insuspeitado devir

Calçadas desgastadas pedra sabão

Chapéu de feltro cinza na mão – boa noite!

Casas lusas paredes pálidas portas janelas à beira,

bocais de louça quebra-luzes latão plissado

bocas da noite derramam sombras douradas

postes postados troncos eretos- cheiros-verdes

Eucalyptus de outrora. Outra hora.

Cães latem, grilos trincando noite-verão

embalam recém-nascidos, medos límbicos,

mães insones num berço empobrecido,

vilarejo subterrâneo onde floresce carvão

pulmão xisto betuminoso, vida do mineiro

chiste duma vida que sobre vive. Sub existe.

Vizinho de para- peito, leito e janelas mudas,

Surdas lembranças, esperanças idas,

casas à beira, sem jardins, ai de mim, tão pequena,

ai de ti, alma serena, cotovelos nas janelas

que sustentam pensamentos vagos

de um como já foi e como será...

- Boa noite!

E a menininha se aconchega e dorme

num colo que acolhe tudo e a tudo sossega... pai!


(Eu, aos 3 anos, no colo do meu pai - Minas do Butiá, 1953)


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