Deitada sobre um lago olho para o céu.
Flutuo n’água fria, no silêncio
feito de brisa, canto de aves, Ave-marias.
O céu é plácido, sem o ácido do meu eu.
Não há eu e isto é o maior alívio. Ou breu.
Me fundo no fundo de abismos de flores,
perfumes, sinfonias, sons, tons
e gosto de gozo que não finda.
Sintonia inacabável com o que é,
que nunca pede explicação.
Nada há a buscar. Isto seria um poema.
A vida ávida de vida a preencher
cada poro da eternidade.
Mas há o intruso.
O interruptor, ou seja, o que rompe
tanto as trevas quanto a luz.
Ele vem sempre vestido de ignorância.
Tanto faz luz ou escuridão,
ele tem fome do oposto,
sua função é interromper.
O intruso rouba o que seria
meu direito de escolher.
Rouba o que seria,
e tudo se transforma
num grotesco nada é.
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