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Foto do escritorirenegenecco

O Intruso



Foto de Aleksandra Dementeva

Deitada sobre um lago olho para o céu.

Flutuo n’água fria, no silêncio

feito de brisa, canto de aves, Ave-marias.

O céu é plácido, sem o ácido do meu eu.

Não há eu e isto é o maior alívio. Ou breu.

Me fundo no fundo de abismos de flores,

perfumes, sinfonias, sons, tons

e gosto de gozo que não finda.

Sintonia inacabável com o que é,

que nunca pede explicação.

Nada há a buscar. Isto seria um poema.

A vida ávida de vida a preencher

cada poro da eternidade.

Mas há o intruso.

O interruptor, ou seja, o que rompe

tanto as trevas quanto a luz.

Ele vem sempre vestido de ignorância.  

Tanto faz luz ou escuridão,

ele tem fome do oposto,

sua função é interromper.

O intruso rouba o que seria

meu direito de escolher.

Rouba o que seria,

e tudo se transforma

num grotesco nada é.

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