Lembro a rosa com seu talo
quebrado ao meio,
inutilmente mergulhada num jarro.
Arranquei sua porção seca,
fiz novo corte na haste,
pus tala em sua corola emurchecida,
mergulhei-a novamente no jarro.
Ela recuperou-se com espantosa rapidez.
Delicio-me com meu poder limitado sobre a vida,
já estaria morta se eu não a tivesse socorrido.
Morrerá amanhã, ou depois, eu sei,
mas retardei seu último momento.
Foi como cortar um pedaço da eternidade
e colar sobre a morte.
Até que ela verta seu sufoco
num suor desesperado
descole meu remendo,
eclodindo pegajosa,
lançando seus tentáculos viscosos
sobre minha silhueta.
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