Leia o post Caminhos percorridos em busca da verdade
Desta feita deixo-me conduzir pelas instruções de Valéria. Inicio meu deslocamento conscencial no mesmo lugar, porém este local vai adentrando, se ampliando. Estou num lugar muito alto, elevações de montanhas cobertas de vegetação e árvores frondosas. Observo que a forma, vista do alto, onde me encontro, parece a borda de um poço, mas como uma meia lua, de dimensões muito grandes, (talvez uns 500 metros de diâmetro) com abertura para o mar, à minha direita. No centro da curva desta meia lua ou ferradura, jorra uma cachoeira espetacularmente poderosa, cuja queda se esfumaça para baixo, pois não se vê o chão do fundo, como se não existisse chão alcançável, tamanha sua profundidade.
Neste lugar começa a chover torrencialmente, chuva de verão. Ouço o barulho da chuva sobre as folhas das árvores, sobre a vegetação, e nas poças que vão se formando. Também vão se formando córregos. Eu estou sempre na borda, olhando o profundo precipício enevoado pela bruma da frondosa cachoeira. É meu lugar de poder. Quando ouço a voz da Valéria falando em observar se há algum incômodo, sinto de imediato um desconforto ao perceber-me deitada na umidade, meu corpo molhado e frio.
Me abandono a esta sensação, na certeza de que era apenas uma sugestão de desarmonia, e o desconforto some. O sol desponta entre as nuvens. A chuva cessa, e o calor do sol enxuga tudo. Sinto o elemento fogo presente em mim, dentro do meu corpo. Nisto sinto a presença de todos os elementos no meu corpo, água, fogo, ar (na minha respiração) e terra, formando minha carne, sangue, ossos e músculos.
Vejo nesta unificação que uma coisa não é separada da outra. São estados de consciência que se complementam, livre de peso, concretude ou medidas humanas limitantes. Vejo-me então sobre uma pedra, deitada, e o desconforto da dureza desta pedra me perturba. Então percebo que estou deitada sobre um enorme ninho de palhas secas. Quando ouço a voz da Valéria falar que se possível pode entrar em conexão com o ancestral de poder, que é o guardião deste local, sinto, à semelhança do primeiro dia de meditação, uma emoção muito forte, seguida de choro.
É a conexão acontecendo. Sinto a presença deste ser. É algo muito maior e além de tudo o que possa caber nos nossos sentidos. Aos poucos a sensação vai se configurando. É uma grande ave com penas verdes, vermelhas, azuis, amarelas e algumas poucas brancas. Se parece com uma robusta arara. Ela se posta atrás de mim e, depois de um tempo, me envolve num grande e caloroso abraço com suas asas, me pondo de pé. Percebo primeiro que esta ave tem cabeça humana. Depois percebo que todo seu corpo é humano, com asas coloridas gigantes. Este corpo me conduz bem para a borda do precipício e entendo que vai me ensinar a voar.
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