Vejo a eternidade na infinidade, corpúsculos minúsculos, rastros de passos que aqui andaram, andam e andarão. Nas calçadas desgastadas cenas de antanho, banho de memórias que ninguém quer tomar. Rachaduras, fissuras, vãos de duras penas, o peso do efêmero, a negar o eterno que viceja a olhos vistos - os meus. Cimento trincado, pedra-sabão que não resvala senão em medos - meus e teus. Vejo rachas, duras nuances de fim, porém em mim resta o chão, entre meios de terra, entre o sim e o não de um “algo resta?” depois de uma guerra com o tempo. Ora em mim uma súplica, mora em ti oração. Ainda resta o chão. Vejo nas brechas e falhas que piso sinais da eternidade, rés do chão, num sem-tempo. Aqui ainda estão mãos que construíram, pés que aqui pisaram, pisam e pisarão, vinhedo de pedra, cujo licor não tem cor nem sabor, senão pálido cansaço de ser. Ouço vozes, clamor do peso em labuta, que sem escuta de ninguém, ninguém se faz. Não há paz sem amor. Calçadas do pó que se esvai me dizem viver para sempre. Clamor e glória, dor e vitória. Clamor dos não vistos, glória dos pés humildes que delineiam o perfil do tempo-sem-tempo, este momento que aqui estou a caminhar. Duzentos anos? Cem e alguns mais... Quantos anos e quantos ais tem este alguém que aqui pisou como eu agora? E na escora da história em memórias de casarios, palácios, casebres e choupanas, adventos e momentos frios? Sinto os ventos da eternidade neste mar de rios de pedra desgastada, mal-amada, esquecida, ao nada condenada. Meus pés desviam de tropeços, trôpegos em vãos e nãos de caminhos tortos, mortos esquecidos. Vejo seres cansados, agachados, condoídos de si mesmos emudecidos. Palmilhando, nivelando, cimentando. Ainda resta o chão.
Along the sidewalks of time
I see eternity in infinity, tiny corpuscles, traces of steps that walked, walk and will walk tomorrow. On the worn sidewalks, scenes from the past, a flood of memories that no one wants to take away.
Cracks, fissures, difficult gaps, the weight of the ephemeral, denying the eternal, which thrives in plain sight - for the my eyes.
Cracked cement, soapstone that only slips on fears - mine and yours. I see cracks, harsh nuances of the end, but the ground remains, interspersed with soil, between the yes and the no, of “is there anything left?”, after a war. It prays in me a supplication. Over you is a prayer. The floor still remains.
I see in the gaps and gaps that I step on, signs of eternity based on the ground, in timelessness. Here are still hands that built, feet that trod here, trample and will trample, stone vineyard, whose liquor has no color or flavor, but a pale tiredness of being.
I hear voices, the cry of weight in toil, that without listening to anyone, no one can do it on their own. Sidewalks of disappearing dust tell me to live forever. Cry and glory, pain and victory. Cry of the unseen, glory of the humble feet that outline the profile of time-without-time.
And this moment, as I'm walking here? Two hundred years? A hundred and some more... How old and how many more is this someone who stepped here like me now? And in the support of history in memories of houses, palaces, huts and huts, advents and thousand moments? I feel the winds of eternity. I see tired beings, crouched, pacing the ground, leveling the path, cementing the sidewalk. The floor still remains.
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