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Foto do escritorirenegenecco

Naufrágio

Atualizado: 20 de mai.


Foto de fauve othon na Unsplash

Não há solidão maior do que um gato que se afasta

noite adentro rua afora como agora,

quando olho insone pela janela.

Deixo-te como te encontrei,

vazia e sem rumo, triste e lúgubre

como uma sonata em si menor.

Porque o que existe entre nós

não tem nome, é outros,

massa do que sou feita.

Teus olhos, teu rosto, teu corpo

ressurgirão eternamente no vazio,

rocha íngreme, solidez robusta do teu abraço,

porto de um náufrago.

Nossos braços se procuram, fitas verdes submersas,

algas entrelaçadas, no saber da correnteza

ao sabor das profundezas, naufrágios da alma.

Boiamos na superfície, irreconhecíveis, impossíveis,

ondulando em dó maior, e sol menor que se põe

no ocaso de uma sinfonia adeus.

Ah...

Pudesse o abrigo escuro e fundo

do meu peito ser fato, e eu me esconder contigo...

Mas isto é artifício, arte e ofício

de construir cavernas para o medo.

Tudo o que digo é vazio e desolado

como restos de um naufrágio.

Meu amor! Quisera tanto soçobrar...

Só sobrar, às margens deste mar

Eu e tu.



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