Não há solidão maior do que um gato que se afasta
noite adentro rua afora como agora,
quando olho insone pela janela.
Deixo-te como te encontrei,
vazia e sem rumo, triste e lúgubre
como uma sonata em si menor.
Porque o que existe entre nós
não tem nome, é outros,
massa do que sou feita.
Teus olhos, teu rosto, teu corpo
ressurgirão eternamente no vazio,
rocha íngreme, solidez robusta do teu abraço,
porto de um náufrago.
Nossos braços se procuram, fitas verdes submersas,
algas entrelaçadas, no saber da correnteza
ao sabor das profundezas, naufrágios da alma.
Boiamos na superfície, irreconhecíveis, impossíveis,
ondulando em dó maior, e sol menor que se põe
no ocaso de uma sinfonia adeus.
Ah...
Pudesse o abrigo escuro e fundo
do meu peito ser fato, e eu me esconder contigo...
Mas isto é artifício, arte e ofício
de construir cavernas para o medo.
Tudo o que digo é vazio e desolado
como restos de um naufrágio.
Meu amor! Quisera tanto soçobrar...
Só sobrar, às margens deste mar
Eu e tu.
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