Harmônica Mente

Mandy de Jong na Unsplash

Tudo é harmonia. Sem harmonia nada é. Mas o que é harmonia, senão uma ordenação, uma fileira de ideias? O que é harmonia senão algo fora de mim? O que é harmonia senão um bando de ideias interpostas, lado a lado... E aí me vem o senso de alado... asas. Aí me veio o senso. Senso. O que é o senso? Só vejo falar em ‘bom senso’. Mas e o mau senso, onde anda?

O mau senso se corrói, se autodestrói, e por isto não existe. E eis meu senso de mim mesma. Lado a lado, uma infinitude de mim mesma, que sufoca, que afoga, que afunda. Ai de um mim mesmo! Ai... o abençoado silêncio... Quando chegarás? Os ponteiros do relógio falam, madrugada a fora. Falam de si mesmos tic tac, tic tac, tic tac... Mas na verdade eles são mudos, eu falo por eles. Eu decido. Quando vou me libertar destas correntes do mim mesmo?

Quero asas silenciosas. Asas silenciosas... Mas e o que são asas de papel? Elas são movidas pelo vento, não se movem a si mesmas. Quero mover céus e terras. Quero sentir o prazer do espaço infinito. Mas e o que é o espaço, senão uma ideia? E o que é a ideia, senão um pálido recurso? Eis-me diante de mim mesmo, pálido, fugidio.

Mas eis um sol! Brilhante! Quente! E eis o fogo no horizonte... Fonte. Ponte para o isto e para o aquilo. Para o eu e o não-eu, breu estapafúrdio de um querer, e de um tudo saber de antemão.

Ai, abençoado silêncio de mim mesma, quando terminarei esta tecitura, estes pontos infinitos? Este manto de paz e de serenidade? Quando? Quando terminarei esta tecitura? É o manto da harmonia que me cobre. Que me encobre. E silencia o medo do escuro.

Ai, o labirinto das palavras... Eis-me aqui. Perdida. Abram-se as portas e as comportas da harmonia. Eis-me de volta! Emaranhada em subterfúgios. Sub-ter-fúgios. Um ter subterrâneo, fugidio. Eis-me nua de mim mesma no espelho. Eis-me o espelho. A coisa que reflete a não coisa, refletida na coisa.  O looping enlouquecedor. A dor de ser o não-ser.

Basta!