De repente tudo era lúcido.
O asfalto sob o sol o cão na coleira
a mão do menino o velho trôpego
a faixa de segurança o céu lúcido azul bebê
entardecendo sobre todas as coisas.
Era lúcido o banco mudo e seco
e eu lúcida esparramada nele à espera.
Eram lúcidos os carrinhos do supermercado
abandonados vazios e o ponto de taxi
os taxis e os taxistas... era lúcido o sopro
nas palmeiras da praça e as palmeiras
e todo o verde.
Lúcida a cruz na torre azul das Graças
em meio aos telhados sobrados e prédios
eretos em sólido concreto.
Era lúcida a ambulância cor branca sirene
e lúcidos os enfermeiros e a seringa translúcida
e lúcidas minhas veias.
Levaram-na trôpega mórbida tarde
trânsito caótico panóptico sorrateiro
púlpito derradeiro fim lúcido
desde sempre e para sempre lúcido.
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