Meu porto seguro é meu corpo.
Mas que fazer
se meu corpo mesmo
é um barco?
Meu porto
é um corpo nada seguro,
no escuro das tempestades,
rasgado pela razão.
Que fenda estupenda
este vão que me faz dois,
ser e não ser,
ou seja,
mundo e eu.
O que mesmo é “eu”?
Na escolha de mim mesmo,
num infinito de possibilidades,
da mais sublime à mais bestial,
é o mundo que me escolhe,
bem ou mal.
É meu eu possível,
flexível, sofrível.
Meu barco é um corpo inseguro,
à deriva.
Meu?
Apenas o absurdo.
A busca febril do que desejo,
rasgando tudo o que é,
na ausência do que procuro.
Hmmm! Lembro, há muitos (tantos!) anos, me mostravas uns poemas teus e eu já então gostava (muito) de alguns, outros (tantos!) não chegava a compreender. Esse é um dos que eu gosto hoje e teria gostado quando éramos outras.