Fico presa na grade da área, debruçada sobre um som.
Algo em mim desmancha, esfarela e se faz pó.
Voa, domingo a fora, pelos corredores em sombra,
junto aos bem-te-vis, beija-flores e pardais.
Uma música antiga flutua com o vento.
No jardim, um homem e uma menina examinam uma flor.
Mas é o pinheiro enorme que me toma e me fascina.
Estremece, revolta-se, sacode e esbraveja contra os céus,
- tufos escabelados pelo vento que se engolfa entre os prédios.
É fúria esvoaçante e também tronco inamovível de raízes fundas.
E é este contraste absurdo que me encanta.
Ah, como eu queria ser o doido rodopiar daqueles acúleos
verde-escuros, varridos pelo vendaval, iluminados pelo sol,
sem passado, presente nem futuro.
Roubar o selo vegetal dado por Deus, e fazê-lo meu,
na minha humana carne, híbrida mulher verde,
absurda e louca, condenada ao espanto e ao encanto de viver.
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